Questo articolo è disponibile anche in: Italiano Inglês Espanhol Francês Alemão Português

Reverendo Padre,

(….) o momento de deixar tudo e seguir o Senhor está próximo.

Há algum tempo que já não me sinto atraído por este mundo incompreensível, irracional e ateu. Lamento pelo povo santo de Deus nesta fase histórica, à mercê dos ventos, sem capitães ou guias.

E assim, nesse momento, tudo o que posso fazer é rezar para manter o leme na direção certa, permanecendo fiel à minha vocação.

Devo lhe confessar, no entanto, que por vezes receio de no futuro não ser capaz de conter as ondas movidas por esses ventos, especialmente se tiver que cuidar das almas: confio-me aos bons Ofícios de Nossa Senhora, a quem venero fervorosamente com o termo sedes sapientiae, e aos de São Tomás, amigo de todas as horas e mestre certo de doutrina.

(…) Também continuarei a rezar para que outros como eu sejam bem guiados, estimulados e exortados a seguir Cristo integralmente e que outros trabalhadores no vinhedo possam surgir, preparados, fiéis, justos e misericordiosos: o povo de Deus precisa desse povo.


Caríssimo,

Com referência aos teus receios de ser empurrado pra lá e pra cá pelas várias correntes também no seio da Igreja, estou cada vez mais convencido de que a bússola orientadora para permanecer fiel à nossa vocação de proclamar e testemunhar o Evangelho é a vida na Graça de Deus, cultivada cada vez mais e melhor.

As correntes a que faço alusão não são as que possam existir entre o pensamento de São Tomás ou João Duns Escoto, entre as escolas dominicana e franciscana. Porque é esse pluralismo legítimo e necessário que enriquece e torna mais esplêndida toda a Igreja, mesmo na sua doutrina.

Refiro-me, ao invés disso, às correntes que te desviam do caminho, que fazem alguns afirmarem que algo está de acordo com Deus e, portanto, santificando esse comportamento que, no entanto, é por natureza pecaminoso e, portanto, distancia-se de Deus e dos caminhos da santificação.

E é com relação a isso que exprimes algum receio pelo teu futuro.

2. Então, o que podes fazer para te manter na verdade e estar entre aqueles por quem Jesus rezou na Última Ceia, dizendo: “[Pai,] Santifica-os pela verdade.” (Jo 17,17)?

Creio que a resposta pode ser encontrada claramente naquele número do Catecismo da Igreja Católica que fala da beatitude dos puros de coração para quem Jesus prometeu a visão de Deus: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!” (Mt 5,8).

3. O Catecismo da Igreja Católica diz assim: “Os «puros de coração» são os que puseram a inteligência e a vontade de acordo com as exigências da santidade de Deus, principalmente em três domínios: a caridade; a castidade ou retidão sexual; o amor da verdade e a ortodoxia da fé”.

E conclui dizendo: “Existe um nexo entre a pureza do coração, do corpo e da fé” (CCC 2518).

4. Três são, portanto, as virtudes características dos puros de coração e que estão intimamente ligadas umas às outras: caridade, pureza (castidade) e amor à verdade, à pureza de fé, que está intimamente ligada à humildade.

5. Caridade acima de tudo.

A caridade, de fato, traz em nós a presença pessoal de Deus e leva-nos a Deus, segundo o que São João disse: “Deus é amor, quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele.” (I Jo 4,16).

Deus permanece como uma luz particularmente brilhante na alma em estado de graça e impede àqueles que têm verdadeira caridade de se desviarem ou de permanecer na escuridão do erro.

São Domingos, quando alguém que havia sido tocado pelo seu sermão perguntou-lhe onde tinha aprendido todas aquelas coisas bonitas, respondeu que as tinha aprendido no livro da caridade.

6. Para preservar a pureza da fé, em segundo lugar, é necessária pureza nos pensamentos, nos sentimentos, nos olhares, nas palavras e nas ações.

São Alberto Magno, dominicano, disse que “a alma que nunca obedeceu às luxúrias carnais possui uma inteligência mais pura e está melhor disposta às coisas celestiais” (cf. v. bernadot, A Ordem dos Freis Predicadores, 3, 4).

O que é o mesmo que dizer: está melhor disposto a encontrar a verdade e lá permanecer.

A este respeito, nunca devemos esquecer o que disse o nosso Salvador: “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más. Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.” (Jo 3,19-20).

Isto significa que os erros na doutrina são muitas vezes precedidos por erros na vida moral, de modo que a mente fica embaçada e já não vê a verdade claramente.

7. Em terceiro lugar, o Catecismo da Igreja Católica diz que deve haver amor à verdade e à ortodoxia da fé.

O amor à verdade é sincero quando é acompanhado de mansidão e humildade.

São Tomás diz que a mansidão “prepara o homem para o conhecimento de Deus” (Suma Teológica, II-II, 157, 4, ad 1).

Ao tornar o homem mestre de si mesmo, leva-o a não contradizer as palavras da verdade, “o que muitos fazem movidos pela raiva” (Ib.).

A humildade, por outro lado, torna-o submisso e aberto para receber a graça divina (Ib., II-II, 161, 5 ad 2).

8. Eis o que é necessário para que não te desvies da verdade, apesar dos ventos contrários.

A Sua unção, que assume a forma de caridade, pureza, e amor sincero pela verdade, manter-te-á na verdade.

Resumindo, necessitas de uma vida interior forte e intensa.

O que Nosso Senhor disse é sempre verdade, ou seja, que a boca fala do que lhe transborda do coração (Mt 12,34) e da sua vida.

Também a esse respeito pode se dizer que os reconhecerá pelos seus frutos (neste caso, os frutos são os ensinamentos).

Asseguro-te a minha oração pela tua perseverança usque ad mortem no caminho para o qual o Senhor te chamou.

Abraço-te fraternalmente e te abençoo.

Padre Angelo