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Olá, padre Angelo,
De que aproveitará, irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso essa fé poderá salvá-lo?
Estou lhe escrevendo este e-mail para que o senhor possa me ajudar a compreender bem duas passagens do NT referentes à fé de um fiel.
Começo com a carta de Tiago cap. 2 vers. 14, onde se diz que a fé não pode salvar se não houver obras, e, comparando essa passagem com a de Romanos 4,4-5, pode-se, a princípio, entender que alguém, mesmo que não faça uma obra (…), mas crê Naquele que justifica o pecador, sua fé é suficiente para ser creditada a ele como justiça e, assim, ser considerado justo por Deus.
Sei que, talvez superficialmente, o significado dos versículos que citei acima possa ser entendido como está escrito, mas, por outro lado, algo me diz que não é bem assim e, por essa razão, peço-lhe um exame e uma explicação mais detalhados.
O texto acima, então, lendo novamente a Epístola de Tiago v.2,17 diz “Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma”: comparando-o com Rm 4,5 “Mas aquele que sem obra alguma crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada em conta de justiça.”, o que isso significa? Existe alguma relação entre os dois versículos?
Última coisa: o versículo Tg 2,18 numa tradução diz “Mas alguém dirá: «Tu tens fé, e eu tenho obras». Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” é um pouco difícil de entender, pelo menos no que me diz respeito, também porque, quando comparado com as outras duas traduções (…), apresenta algumas diferenças sintáticas (não em nível semântico).
Por exemplo, em outra tradução (…), é usada uma linguagem mais simples: “Mas então me mostre como sua fé pode existir sem obras!
Bem, eu posso lhe mostrar minha fé através das minhas obras, ou seja, com os fatos! (trad.lit., n.t.)”.
Daí a diferença na forma como se é salvo entre o catolicismo e o protestantismo, em que este último sustenta que a justificação vem somente pela graça, por meio da fé somente, e por causa de Cristo somente, e não também por ‘obras meritórias’, em que os católicos ensinam que, para ser salvo, o cristão deve confiar, além da fé?
Agradeço antecipadamente por sua resposta e confio que poderá, mesmo com mais investigações de sua parte, me ajudar.
Paz e bem.
Resposta do sacerdote
Caríssimo,
1) Quando São Paulo diz que uma pessoa é salva somente pela fé, Ele está se opondo aos fariseus, de onde Ele veio, que pensavam que eram apreciados por Deus simplesmente pelas obras externas da lei, como a circuncisão, ir a Jerusalém na Páscoa, observar os ritos de purificação se alguém tivesse tocado em objetos considerados impuros.
Precisamente com relação a isso, Jesus diz: “Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20).
2. São Tomás comenta: “(Primeiro) a justiça dos escribas e fariseus era aparente, ou seja, parecia o que não era. Maior do estava na ostentação que a dos escribas e fariseus, pois a justiça deles de seu comportamento e no julgamento que faziam dos outros, como fica claro em Lc 18,12: “Jejuo duas vezes na semana”.
Em segundo lugar, porque a justiça estava na ostentação da obra, não na retidão de intenção.
Terceiro, porque era na ablução e na pureza exterior, não na obra.
Quarto, na aflição do corpo com o jejum, e não na observância dos mandamentos.
Quinto, porque era nas observâncias menores, negligenciando as mais importantes da lei; portanto, é como se Ele dissesse: não somente cumprir as coisas mínimas, como fazem os fariseus, mas também aquelas que eu acrescento para a perfeição, entrará no reino dos céus, isto é, na Igreja triunfante.
3. Agora, nenhuma obra exterior é suficiente para a remissão dos pecados.
Somente o sangue de Cristo tem o poder de expiar.
Nenhuma daquelas obras é santificadora em si mesma.
Somente a graça de Deus, que traz a vida sobrenatural do Senhor para o coração humano, é santificadora.
4. Essas premissas são necessárias para entender o significado do versículo da carta aos Romanos: “Ora, o salário não é gratificação, mas uma dívida ao trabalhador. Mas aquele que sem obra alguma crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada em conta de justiça.” (Rom 4,4-5).
5. Marco Sales comenta: “Como um exemplo tirado da vida cotidiana, São Paulo confirma que Abraão não tem nada de que se gloriar diante de Deus. Um trabalhador (a quem trabalha) tem um direito estrito ao seu salário, e quando isso lhe é dado, não é uma graça (não é contado como um presente), mas como uma dívida quitada, ao qual não pode renunciar sem injustiça. Portanto, o trabalhador tem que se vangloriar perante aquele que tem que lhe pagar.
Por outro lado, se aquele que não trabalha, mas crê, como Abraão, Naquele que justifica o pecador, isto é, em Deus, a fé é imputada à justiça e, então, não é uma dívida que é quitada, mas é um dom que é recebido, um benefício gratuito, do qual não tem razão para se vangloriar diante de Deus)”.
Aquele que não trabalha é aquele que não tem nada do que se vangloriar nas obras da lei (circuncisão, jejum, abluções, …) e se reconhece como pecador. Em troca, ele apela para sua salvação ao sacrifício que Cristo fez na cruz para remissão dos pecados e se abre para sua ação salvadora.
Abrir-se à Sua ação salvífica implica a observância dos mandamentos (“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama”, Jo 14,21) e, sobretudo, o exercício da caridade, sem a qual nada beneficia a vida eterna (cf. 1 Coríntios 13,1ss).
Portanto, aqui “não trabalhar” é sinônimo de trabalho árduo, trabalho real que expressa o amor com obras e não apenas com suspiros.
É assim que os dois versículos, Tg 2,17 e Rom 4,5, se conectam.
6. Portanto, não se trata de uma fé comum, como a que até mesmo os demônios podem ter (cf. Tg 2,19), mas de uma fé operante, de acordo com o ensinamento muito claro de nosso Senhor: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!” (Mt 7,21-23).
7. Com relação ao versículo de Tg 2,18, é preciso reconhecer que a tradução TILC (Tradução para o idioma atual, trad.lit., n.t) é mais compreensível.
Marco Sales comenta: “Pois bem, mostre-me a sua fé sem obras, ou seja, prove-me sem recorrer às obras que você tem fé verdadeira: ao contrário, eu, com minhas obras, que são fruto da fé, posso provar-lhe que há fé em mim.
A fé é um dom interior e espiritual e não pode ser vista externamente, exceto pelas obras.
Portanto, não apenas a fé está morta sem obras, mas não se pode nem mesmo provar que ela existe”.
Essa é a mais bela resposta aos protestantes, mesmo sem se referir à carta de Tiago, que eles removeram da Bíblia porque é fortemente contrária à doutrina deles.
Com o desejo de tornar a tua fé cada vez mais visível por meio de muitas obras santas, eu te abençoo e me lembro de ti com prazer na oração.
Padre Angelo