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Olá, padre Ângelo,

desculpe incomodá-lo novamente mas tenho algumas perguntas importantes que não sei como abordar:

1.  Atualmente, tenho ouvido com frequência sobre glorificar a Deus na fraqueza, porque é aí que ele manifesta sua força. No entanto, quando penso nisso, sinto-me como uma espécie de fantoche criado apenas para ser livre para glorificar a Deus, pois só aí posso encontrar minha felicidade. É como se Deus estivesse me levando lentamente a perceber que somente esse é o caminho, deixando-me assim sem saída, porém, essa é uma falsa liberdade.

2. A segunda é que todas as minhas qualidades só me foram dadas para cumprir o plano de Deus para mim. No final, há sempre somente Ele, e nossa liberdade é uma farsa.

3. Eu sinto que Deus me ama, mas também que se um Pai ama, como não poderia satisfazer os desejos mais profundos de nossos corações? Por exemplo, uma garotinha que nasce paralítica por dentro talvez tenha o desejo de andar, de ver o mundo, de conhecer seu esposo… Como pode um Deus que afirma nos amar não atender aos maiores desejos de nosso coração a todos, sem preferência (porque aparentemente alguns são considerados e outros não)? Como uma pessoa que tem certas doenças consegue entender que essa cruz é amor? Francamente, eu ficaria muito bravo com quem me dissesse essas coisas. Não seria suficiente que Deus explicasse certas coisas com amor, como meu pai me consola quando estou triste?

4. Como é possível que o Senhor permita certas doenças alucinantes, raras, mentais e outras doenças horríveis que Jesus nunca experimentou em seu corpo e em sua mente? Com que direito responde também a essas pessoas “tomai a cruz” sem ter experimentado certos tipos de “cruzes”?

Muito obrigado,

Nicola


Resposta do sacerdote

1. Sim, fomos criados para a glória de Deus. 

Mas não para sermos marionetes nas mãos de outra pessoas, como se elas precisassem de nossa ajuda para aumentar sua própria felicidade.

Mas, sim, para nos apropriarmos da glória de Deus, ou seja, daquilo pelo qual Deus é Deus.

2. Nosso relacionamento com Deus encontra muitas semelhanças com o raio de luz e com a fonte de luz.

O raio não seria nada por si só se a fonte de luz não o alimentasse.

O raio não tem nada a comunicar além da luz.

Se o raio quisesse fazer qualquer coisa sem a fonte de luz, imediatamente causaria sua própria destruição.

É uma graça que a fonte de luz o tenha criado, que o vivifique a cada momento e lhe dê todo o esplendor e a beleza com os quais está revestido.

Assim funciona para nós: é uma graça termos sido criados, podermos participar da vida de Deus e fazermos algo junto com Ele que durará eternamente.

Sem Deus, não só não podemos fazer nada, mas caindo logo no nada de onde Ele havia-nos tirado.

3. Somos chamados a participar da vida e do poder de Deus em todos os momentos, mesmo naqueles em que experimentamos fraqueza e sofrimento.

É com referência a isso que São Paulo diz para glorificarmos a Deus em nossas fraquezas: “Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque, quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12,10).

O autor o afirma em referência a um espinho na carne, um anjo de Satanás que o esbofeteava, pelo qual ele havia pedido ao Senhor três vezes para ser libertado. Mas três vezes o Senhor lhe respondeu: “Basta-te minha graça” (2Co 12,7).

4. Tranquilizado por essas palavras do Senhor, Paulo sabe que seus sofrimentos unidos aos de Cristo produzem um fruto ainda mais abundante do que o da pregação.

Há em seu sofrimento, unido ao de Jesus Cristo crucificado, um extraordinário poder de conquista. Esse poder pelo qual o Senhor havia dito: “E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim” (João 12,32).

5. Se por liberdade você quer significar ser capaz de fazer algo sem Deus e fora do plano de Deus, você não produz nada que dure eternamente.

Essa seria uma liberdade para a morte, porque se você não construir em Deus, ou seja, em sua graça, tudo será inexoravelmente devorado pelo tempo e pelo nada.

Portanto, podemos concluir com Qoelet :”Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Eclo 1,2), tudo é fútil.

6. Em seguida, você escreve: “Todas as minhas qualidades me foram dadas apenas para cumprir o plano de Deus para mim. No final, sempre há apenas Ele, e nossa liberdade é fingida”.

Quais são suas qualidades se não forem aquelas que Deus lhe deu?

Além disso, o plano de Deus não é algo externo a você, como se você tivesse que se alienar para realizá-lo. Mas é o que você encontra escrito em seu coração.

Mas é o que você encontra escrito em sua constituição mais íntima. 

Realizá-lo não é sua alienação, mas sua perfeita felicidade. 

Pois é com toda a sua força, com toda a sua energia que você anseia por ela.

É por isso que eu lhe disse antes que a vocação é o que a pessoa é, é para o que ela foi “feita”, ” criada”.

7. Depois, há um problema que te aflige: se o Senhor te ama e te ama com um amor todo-poderoso, por que Ele não satisfaz seus desejos mais profundos?

De novo: seus desejos mais profundos são aqueles que Ele despertou em seu coração, porque “Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar” (Fl 2,13).

Por que, então, Deus não desperta numa criança paralisada o desejo de ser curada?

A essa altura, é necessário lembrar que Deus não nos criou simplesmente para a vida presente. Seria uma zombaria nos criar e depois nos fazer morrer para sempre.

Pelo contrário, Ele nos criou para a vida eterna.

Na vida cotidiana, somos chamados a fazer grandes preparativos para nossa vida futura.

É somente dentro dessa perspectiva que podemos entender qualquer coisa.

Acaso não é esse o significado da bem-aventurança proclamada pelo Senhor em seu primeiro grande discurso: “Bem-aventurados os que cho­ram, porque serão consolados!” (Mt 5,4)

Sem essa luz, não há entendimento de nada, apenas trevas.

Os ateus rejeitam essa luz. Mas não têm outra. Eles têm apenas uma escuridão densa e uma vida sem sentido à sua frente.

8. Neste instante, venho me lembrando da grande figura da última santa dominicana canonizada: Margarida de Città di Castello.

Nascida aleijada e cega (o que poderia ser pior do que isso?), a criança foi abandonada na rua por seus pais.

Contudo, soube tirar proveito de sua condição para receber a verdadeira luz dentro de si.

A santa conseguiu doar essa luz a tantas pessoas que recorreram a ela, que tinham a luz dos olhos, mas não a luz interior.

9. Por último, você fala de doenças que Jesus não experimentou.

São Tomás questiona se Cristo sofreu todos os sofrimentos.

A resposta é a distinção entre os sofrimentos de seu gênero e os sofrimentos por si só.

Se considerarmos os sofrimentos em suas espécies individuais, Jesus Cristo não sofreu todos também porque “muitos são incompatíveis entre si, como queimar e se afogar na água”.

Entretanto, o Evangelho relata, entre outras coisas, que os dois ladrões tiveram suas pernas quebradas. Jesus não sofreu esse sofrimento específico.

10. “Mas se considerarmos esses sofrimentos em sua espécie, então todo sofrimento humano pode ser encontrado nele de acordo com três ordens de considerações. 

Primeiro, pela totalidade dos homens que os infligiram. Pois Jesus os sofreu de gentios e de judeus; de homens e de mulheres, como é evidente pelas servas que acusaram Pedro. Além disso, Ele sofreu com os príncipes, bem como com seus ministros e com o povo comum, de acordo com as palavras do salmista: ‘Por que tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações? Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo”. 

Além disso, foi vítima de membros da família e de conhecidos, como é evidente no caso de Judas, que o traiu, e de Pedro, que o negou.

Em segundo lugar, considerando-os em comparação com as coisas que podem ser sofridas. Pois Cristo sofreu o abandono de seus amigos; a infâmia pelas blasfêmias proferidas contra Ele; a desonra pelas zombarias e insultos; a privação de bens pela despojamento até mesmo de suas roupas. Ele sofreu em sua alma tristeza, náusea e medo e em seu corpo feridas e flagelos.

Em terceiro lugar, a totalidade dos sofrimentos pode ser vista com relação aos membros de seu corpo. Pois Cristo sofreu em sua cabeça a coroação de espinhos, em suas mãos e pés, as perfurações de pregos, em seu rosto, as bofetadas e cusparadas e em todo o seu corpo, a flagelação. Além disso, Ele sofreu em todos os sentidos do corpo: no sentido do tato, porque foi açoitado e crucificado; no sentido do paladar, porque foi lavado com fel e vinagre; no sentido do olfato, porque foi pendurado no madeiro em um lugar atormentado pelos cadáveres dos mortos, “que era chamado de lugar da Caveira”; no sentido da audição, porque foi atordoado pelos gritos de blasfêmia e desprezo; no sentido da visão, porque viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, chorando” (Summa Theologica, III, 46.5).

Para não mencionar as dores da alma que sobrecarregaram Jesus desde o primeiro momento de sua existência por causa de sua participação nas dores de todos os homens (“Quem é fraco, que eu não seja fraco?”, 2 Cor 11,29) que Ele viu individualmente.

11. Sim, antes de dizer a todas as pessoas que tomassem sua cruz e o seguissem, Jesus já tinha cada uma delas individualmente presente em sua alma.

Somente por intervenção divina esses sofrimentos não esmagaram o corpo de Jesus, pois, caso contrário, Ele não poderia ter cumprido seu ministério.

Eu te abençoo, desejo-te felicidades e me lembrarei de você na oração.

Padre Ângelo